quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Morre Heleieth Saffioti

Perda doída, notícia triste!
Segue texto publicado no blog da Fundação Perseu Ábramo, sobre a morte desta companheira querida!
Companheira Heleieth: presente!!!!

Faleceu a professora e pesquisadora feminista Heleieth Saffioti

publicado em 14/12/2010


Aos 76 anos, faleceu ontem, 13/12/2010, a professora Heleieth Saffioti, professora, pesquisadora e autora de livros sobre a situação das mulheres, incluindo "Gênero, patriarcado, violência" pela EFPA, em 2004 (o livro está esgotado e terá uma segunda reimpressão (atualizada segundo o novo acordo ortográfico) logo nos primeiros meses de 2011.
Nota de Tatau Godinho* sobre a professora Heleieth
Heleieth Saffioti é conhecida internacionalmente como uma das mais importantes pesquisadoras feministas do país. Seus estudos sobre a situação das mulheres no mercado de trabalho no Brasil, desde a década de 1960, são pioneiros na análise sobre as desigualdades entre mulheres e homens, as diversas formas de opressão e exploração no trabalho. Professora de Sociologia, aposentada, da UNESP, e do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP, nos últimos anos dedicou-se também ao estudo sobre a violência sexista, acompanhando de perto o problema no Brasil, com abordagem teórica sobre a violência de gênero e análise sobre as políticas públicas nessa área. Em sua homenagem, a instituição que desenvolve a política de apoio às mulheres vítimas de violência na cidade de Araraquara, inaugurado pela prefeitura em 2001, foi chamado Centro de Referência da Mulher “Heleieth Saffioti”.
Sempre identificada com posições de esquerda e progressistas, e sem temer a polêmica que as temáticas feministas costumam provocar, Heleith buscou compreender os mecanismos profundos da exploração das mulheres no capitalismo, insistindo com veemência na relação estrutural entre capitalismo, patriarcado e racismo. Sem abrir mão de suas convicções e com sólida formação acadêmica, Heleieth renovava em suas análises as referências teóricas marxistas e a elaboração dos estudos feministas. Como ela sempre dizia, o nó que amarra classe, gênero e raça constroi as dinâmicas de desigualdade na sociedade contemporânea.
Autora de mais de 12 livros sobre a situação das mulheres, estudos sobre gênero e teoria feminista, sua produção é uma contribuição indispensável para a sociologia brasileira. Sem medo de ser considerada uma defensora radical dos direitos das mulheres, a intelectual, pesquisadora e militante feminista, professora Heleieth Iara Bongiovani Saffioti é uma referência obrigatória na história da luta das mulheres no Brasil.

*Tatau Godinho, socióloga, militante do movimento de mulheres e integrante do Conselho Curador da Fundação Perseu Abramo

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Homofobia: a vergonha do século XXI

A homofobia tem se tornado um problema de segurança e de saúde públicas. Estamos em pleno século XXI, mas quando se trata do assunto homossexualidade ou bissexualidade, os atores sociais dos segmentos conservadores da sociedade buscam esteriotipar e colocar os comportamentos que fogem dos padrões heteronormativos como doença ou pecado.
Um grande exemplo é o Pr. Silas Malafaia, que não tem a vergonha de dizer que não se pode criminalizar a homofobia, pois isto expressaria um limite à liberdade de expressão e pensamento religioso. Não se cansa de dizer que o "homossexualismo" (a expressão "ismo" contida no final da palavra deflagra o sentido de que a homossexualidade implica doença) é pecado e que os homossexuais perecerão no inferno, se não voltarem à sua natureza conforme a criação de Deus: homem e mulher/cenora no figo, em outras palavras, vagina e pênis.
Estes ideólogos que colocam a homossexualidade como coisa anormal são uma versão mais tosca daqueles padres que queimavam as bruxas no século XVI e daqueles idiotas do período vitoriano que afirmavam que a mulher não podia sentir prazer na relação sexual. Ou seja, querendo ou não, o pastor Silas Malafaia e outros fariseus hipócritas contemporâneos tendem a submeter a relação sexual mediante a análise  de que o sexo serve apenas para reprodução.
Diante disto, vemos que não se dá importância à identidade de gênero das pessoas e nem à orientação sexual das mesmas. O que o pastor não sabe é que as pessoas têm orientações sexuais distintas, podendo ser heterossexual, homossexual e/ou bissexual e, mediante esta orientação, a pessoa assumirá determinada identidade de gênero, que pode ser, lésbica, gay, travesti, transexual ou transgênero.
Com isto, não é doença ou pecado assumir o que se sente. Doença é esconder aquilo que realmente é. Pecado consigo mesmo é não se permitir amar e ser amado por uma pessoa que realmente lhe interesse.
Além das manifestações mais amenas como no caso deste pastor acima citado ou do chanceler da reitoria da Universidade Mackenzie - uma das mais bem conceituadas universidades particulares de São Paulo (e uma das mais caras também) - houveram na cidade de São Paulo, entre os meses de Novembro e Dezembro, cerca de 5 ataques à homossexuais. O mais brutal deles - pelo menos o mais brutal dos que temos conhecimento - ocorreu numa manhã de domingo na avenida Paulista (veja o vídeo a seguir, se você ainda não viu). Um jovem menor de idade e de classe média atacou um rapaz que estava andando na rua com uma lâmpada florescente. O rapaz fez uma cirurgia no rosto para reparar os danos causados pela agressão.
Isto nos faz refletir sobre quais as pessoas que estamos formando hoje para serem os adultos do futuro.
Em uma sociedade falocêntrica e de ideologia burguesa imperam valores racistas, machistas e homofóbicos, que não respeitam a diversidade, presente nas subjetividades humanas e nas relações sociais. Portanto, há necessidade de se pensar a homofobia dentro dos parâmetros patriarcais e capitalistas nos quais estamos inseridos. Cabe a pergunta: Por que o Senado demora tanto para aprovar a lei contra homofobia, se os deputados aprovam em menos de um dia o reajuste de seus próprios salários? Por que o PNDH 3 não avançou em questões de suma importância para a garantia de direitos civis como o casamento homoafetivo e a legalização do aborto? Por que o presidente ex-metalúrgico, ex-sindicalista e sem dedo assinou o tosco "Acordo Brasil Vaticano", que prevê o ensino religioso nas escolas? Por que a nova presidente eleita recua quando se trata de casamento entre pessoas do mesmo sexo e descriminalização do aborto?
Estas são questões que devem ser refletidas antes de serem dadas respostas que reproduzem o estado de coisas. Obviamente, diante de todas estas questões pesam o fato do Brasil não ser um país realmente laico, como professa a Constituição Federal de 1988. O Brasil ainda tem muito de país feudal moderno, em que pesa o clero - catolico ou evangélico - e os senhores feudais, representados pelos coronéis do sertão, ou da mídia, ou dos grandes conglomerados de empresas. Este é um dos países em que a desigualdade de recursos e de oportunidades é mais presente, se comparado à países sulamericanos também em desenvolvimento, como Uruguai e Chile.
Por fim, continuo na minha tese de que a emancipação de gênero só se dará nos marcos da emancipação humana. Ou seja, na ultrapassagem desta sociedade indigna em que vivemos para um modelo de sociedade pautado na produção para suprimento das necessidades humanas, tanto materiais como espirituais, em que os homens se reconheçam no produto de seu trabalho, produzindo bens para o conjunto da sociedade, respeitando os limites naturais. Uma sociedade igualitária, em que todos tenham acesso aos bens produzidos pelo gênero humano. Somente assim e, por meio de uma contracultura feminista forte, poderemos vencer o capitalismo e todos os micro sistemas que o sustentam e dialeticamente são sustentados pelo modo de produção, quais sejam o machismo, o racismo e a homofobia.

Para finalizar, reproduzo um vídeo que achei no You Tube.
Cada vez mais se faz necessária a luta contra a homofobia, por meio de uma contra cultura que leve em conta a diversidade sexual e o respeito à identidade de gênero.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A xenofobia e os nordestinos em São Paulo



O meu nome é Severino,  
como não tenho outro de pia. 
Como há muitos Severinos, 
que é santo de romaria,  
deram então de me chamar 
Severino de Maria 
como há muitos Severinos 
com mães chamadas Maria, 
fiquei sendo o da Maria 
do finado Zacarias.  
  
Mais isso ainda diz pouco:  
há muitos na freguesia,  
por causa de um coronel  
que se chamou Zacarias  
e que foi o mais antigo  
senhor desta sesmaria.   
Como então dizer quem falo  
ora a Vossas Senhorias?  
Vejamos: é o Severino  
da Maria do Zacarias,  
lá da serra da Costela,  
limites da Paraíba.   
Mas isso ainda diz pouco:  
se ao menos mais cinco havia  
com nome de Severino  
filhos de tantas Marias  
mulheres de outros tantos,  
já finados, Zacarias,  
vivendo na mesma serra  
magra e ossuda em que eu vivia.   
Somos muitos Severinos 
iguais em tudo na vida:  
na mesma cabeça grande  
que a custo é que se equilibra,  
no mesmo ventre crescido  
sobre as mesmas pernas finas  
e iguais também porque o sangue,  
que usamos tem pouca tinta.   
E se somos Severinos  
iguais em tudo na vida,  
morremos de morte igual,  
mesma morte severina:  
que é a morte de que se morre  
de velhice antes dos trinta,  
de emboscada antes dos vinte  
de fome um pouco por dia  
(de fraqueza e de doença  
é que a morte severina  
ataca em qualquer idade,  
e até gente não nascida).   
Somos muitos Severinos  
iguais em tudo e na sina:  
a de abrandar estas pedras  
suando-se muito em cima,  
a de tentar despertar  
terra sempre mais extinta.


São muitos os severinos e severinas em São Paulo. Cada um com sua história particular, sofrendo profundamente as expressões de uma nova questão social que é coletiva.
Com certeza, é por causa da presença destes trabalhadores que a cidade de São Paulo se fez. Vieram para a cidade grande, fugindo da seca, da concentração de renda e de terras. Com um modelo de desenvolvimento centralizador, que visava impulsionar a industrialização em grandes metrópoles como São Paulo, pouco restou para o homem do campo sobreviver: teve que vir à cidade grande, deixando para trás sua família e cultura.
Apesar de serem peças fundamentais para o crescimento da metropole, muitas são as pessoas que os criticam e os agridem com atos e palavras. Conforme Arendt, há um apego afetivo no preconceito. E é verdade. Podemos ver isto no discurso daquela estudante de direito que disse que os nordestinos tinham de ser expulsos de São Paulo, ou mortos, sei lá as palavras que ela utilizou.
Pessoas assim integram a direita paulistana, totalmente reacionária, fascista e conservadora.
Não podemos admitir que os nordestinos sofram preconceitos como estes. Todos os brasileiros têm o direito de ir e vir e permancer onde bem desejar. Os nordestinos são brasileiros e, portanto, têm o direito de viver em qualquer região do Brasil.
Além do preconceito, este segmento enfrenta uma dura realidade todos os dias: a maioria deles vive em favelas, muitos em áreas de risco; a maioria dos nordestinos em São Paulo são subcontratados ou trabalham com contratos temporários, convivendo com a precarização extrema das relações de trabalho; os nordestinos em São Paulo formam o subproletareado urbano e, por isso, engrossam a massa de trabalhadores inúteis integrantes do imenso exército industrial de reserva; estudam em escolas públicas precarizadas, para que permaneçam em sua condição de subproletareado e presa fácil para terceirizadas e quarteirizadas.
Os nordestinos não vêm para São Paulo para superlotar as filas dos hospitais ou para arrancar o emprego de "quem nasceu no asfalto" como dizem os fascistas de plantão. Eles vêm para São Paulo fugindo da opressão imposta pelo coronelismo e pela exploração sem limites impostas pelo latifundio e pelo agronegócio.
E, portanto, pensar desenvolvimento é mais do que nunca pensar na questão agrária e urbana. A propriedade urbana e rural deve cumprir a sua função social, que com certeza não é a de especulação.

OS NORDESTINOS MERECEM RESPEITO!
CONTRA A PEQUENA BURGUESIA REACIONÁRIA E FACISTA!
PELA REFORMA AGRÁRIA E CONTRA O AGRONEGÓCIO: A TERRA PERTENCE A QUEM NELA TRABALHA!!!!!
PELA REFORMA URBANA: TODO APOIO AO MOVIMENTO DOS TRABALHADORES SEM TETO!!!