Exponho abaixo meu manifesto a respeito de uma possível nova troca de prédio por parte da FAPSS.
Entrei na faculdade aos 19
anos. Escolhi o curso de Serviço Social não por ideais, mas sim por pura
curiosidade.
O prédio da FAPSS era
aconchegante e acolhedor: tratava-se do antigo prédio que abrigava a escola
particular “Eduardo Gomes”, localizado à Av. Paraíso. Sua forma quadrangular
facilitava o processo pedagógico dos alunos no que se referia à apreensão da
reflexão crítica, possibilitando a construção de um projeto ético de Serviço
Social, a serviço dos trabalhadores e dos segmentos oprimidos. O pátio
espaçoso, de passagem obrigatória para estudantes e docentes, foi palco de
diversas manifestações, como a de 2007, onde alunos cansados da precarização de
seus campos de estágio, resolveram paralisar as aulas para deliberarem sobre
como se daria um controle discente efetivo ao Departamento de Estágio.
Não é necessário dizer o
quanto aquele espaço possibilitava o fortalecimento do coletivo de alunos e
destes com os professores.
Gostava muito daquele “canto”,
apesar dos diversos rumores sobre a possibilidade de mudança de prédio, que
tiveram início desde o meu ingresso à faculdade, em 2007. Não se dizia,
entretanto, quando isso aconteceria e nem o local para onde a faculdade seria
alocada.
Quando estava no sexto
semestre, em 2009, a diretoria logo no início do ano letivo surpreendeu a todos
os estudantes dizendo que a FAPSS mudaria de prédio no mês seguinte (Março). A
única coisa que sabíamos era que isso aconteceria porque o contrato de comodato
da Prefeitura de São Caetano do Sul com a FAPSS havia expirado, não sendo
prorrogado, pois a prefeitura utilizaria o prédio para implantação de um
equipamento voltado à capacitação de professores da rede pública municipal.
Nada foi feito de forma
transparente, nem por parte da Diretoria da FAPSS e tampouco pela Prefeitura de
São Caetano. Aliás, na ocasião os alunos ficaram indignados, mas como estávamos
de mãos atadas, não pudemos realizar ações que fizessem a decisão da prefeitura
retroceder.
Fomos para um corredor, alugado, no prédio do
Campus I da USCS, localizado à Av. Goiás. Lá, perdemos toda a nossa autonomia
de organização estudantil. No início, fomos inclusive desmembrados (como o
espaço era muito pequeno, o primeiro semestre fora alocado em uma sala no meio
do Campus I, bem longe do local onde estava a FAPSS). Com isto, posso dizer até
que a mudança de prédio ocasionou a perda da nossa identidade enquanto coletivo
acadêmico. Após a pressão dos estudantes, conseguimos que o primeiro semestre
fosse alocado no “espaço da FAPSS”, no mesmo corredor onde ficavam os demais
semestres.
Entretanto, no novo prédio
uma demanda surgiria: a falta de acessibilidade que afetava o direito de vir,
permanecer e transitar pelo espaço acadêmico dos alunos com dificuldade de
locomoção. Esta era uma demanda nova para nós: se no prédio antigo não havia
elevadores e nem rampas, ao menos a disposição das salas era feita conforme as
necessidades dos alunos, que precisavam, no máximo, de transpor três degraus!
No novo prédio era diferente: ficávamos no último andar de um dos blocos e o
elevador estava quebrado. Além disso, não havia rampas de acesso.
Tal situação mobilizou o
corpo discente para a organização de um ato, ocorrido em Agosto de 2010. O ato
de teor pacífico resultou na realização de uma assembleia, onde estavam
presentes alunos, diretoria e coordenação pedagógica. Apesar de levantarmos
diversas demandas voltadas ao âmbito pedagógico, o pano de fundo das
reivindicações era a exigência da garantia de acessibilidade aos alunos com
deficiência.
Após a assembleia, a FAPSS
começou a “cobrar” – pelo menos essa era a informação passada pela diretoria da
faculdade – de forma veemente o reitor da USCS, uma vez que, como pagávamos
aluguel, deveríamos exigir ao locador o conserto do elevador. Ocorre que as
informações transmitidas pela diretoria da FAPSS não eram nada animadoras: o
reitor da USCS havia mencionado a impossibilidade do conserto do elevador,
“pois havia sido quebrada uma peça muito cara, a qual não havia como ser
trocada”. No entanto, o Centro Acadêmico XV de Maio, juntamente com demais
discentes, permaneceu cobrando a faculdade para que assegurasse acessibilidade
aos alunos.
Diante desta pressão
exercida pelo corpo discente, FAPSS e USCS fizeram um acordo para que fossemos
transferidos para o Campus II, localizado à Rua Santo Antônio, próximo à
estação de trem de São Caetano do Sul, onde ao menos teríamos acesso a rampas e
elevadores. Entretanto, mais uma vez, fomos obrigados a mudar de prédio de
forma repentina, logo em Outubro de 2010.
E agora, passados dois anos
de nossa estadia na USCS, começam a circular rumores de nova mudança de prédio.
Mas, antes que ocorra, precisamos mencionar o quanto isto pode ocasionar
impactos na rotina dos alunos. Por este motivo, o corpo discente exigirá
transparência total nas deliberações da faculdade em torno deste assunto, pois
os que mais sentem o impacto de uma nova modificação desta magnitude somos nós,
os estudantes.
Sobretudo, devemos também
exigir explicações que não devem ficar esquecidas no tempo, como: Por que a
prefeitura de São Caetano não deu alternativas à FAPSS para que permanecesse
com seu espaço próprio? Onde a FAPSS colocou o dinheiro das nossas mensalidades
enquanto não pagava aluguel e estava alocada em regime de comodato no prédio da
Av. Paraíso? Será que uma reserva financeira oriunda desta época não poderia
possibilitar o acesso a um espaço acadêmico próprio, onde a FAPSS retomaria sua
identidade perdida e seu espírito coletivo anterior? Por que tudo foi feito de
maneira tão nebulosa? Por que os alunos, principais afetados e interessados no
assunto, não são chamados para discutir tal situação?
Fato é que acredito ser de
extrema importância o retorno da parceria entre FAPSS e prefeitura, para que a
faculdade tenha uma alternativa de alocação onde seja novamente gestado um
espírito autônomo e independente. Proponho com isto que a prefeitura retome a
sua responsabilidade para com a FAPSS, responsabilidade esta que fora renegada
em 2009, quando fomos obrigados a sair do prédio da Av. Paraíso. Além disso,
creio ser necessário que a mudança ocorra de forma a facilitar o processo
pedagógico e de organização do movimento estudantil, que também é um
facilitador na formação de novos profissionais, críticos e éticos, como a atual
conjuntura tem exigido atualmente.
Eu, Luciana Ribeiro
Paneghini, assistente social, formada na FAPSS São Caetano tenho um compromisso
ético para com esta instituição de ensino superior. Afinal, sem sua presença em
minha cidade, não teria feito metade das coisas que realizei. Não teria
transformado meu modo de pensar e, por conseguinte, a minha prática cotidiana.
Não teria respaldo para trabalhar na área onde atuo atualmente como assistente
social. Nestes termos, proponho que a FAPSS seja mais transparente e facilite a
participação dos alunos no processo decisório quanto à mudança de prédio e
demais questões, inclusive de âmbito pedagógico, a fim de garantir a
socialização das informações que nos dizem respeito e paridade nas
deliberações, facilitando o processo de democratização, um dos pressupostos de
nosso próprio projeto ético-político.
Sem mais,
Luciana Ribeiro
Paneghini
10 de Junho de 2012.