segunda-feira, 9 de julho de 2012

Dica de Filme: Revolução em Dagenham

Capa do filme que, em inglês, chama-se "Made in Dagenham"

Faz muito tempo que eu não dou dica de filme. Pra dizer a verdade, fiz isso apenas uma vez. Mas agora, retomando o blog, posso dar várias dicas de filmes cults, que vão fazer você pensar e refletir sobre os aspectos sociais e existenciais de nossas vidas.
Assisti ao filme "Revolução em Dagenham" (Made in Dagenham) no mês passado e me surpreendi, de maneira positiva. 
Ele é pra aquelas mulheres que lutam pela causa das trabalhadoras, que se vêm partícipes da produção social de mercadorias e que não se limitam a apoiarem seus maridos trabalhadores nas greves.

Mulheres em assembleia na fábrica da Ford
A história é tão intensa - e verídica - que ao final do filme são apresentados os depoimentos das lutadoras que participaram, em 1968, da greve de Dagenham, que uniu as costureiras da fábrica da Ford, nesta região do subúrbio à leste de Londres.
Para atiçar a curiosidade de vocês e, ao mesmo tempo, não contar todo o filme (exercício difícil para mim), vou explanar sinteticamente sobre ele: trata-se da história de mulheres, trabalhadoras da Ford, que cansadas de ganharem menos que os homens vão à luta, paralisando as atividades da oficina de costura onde trabalham, para exigirem melhores condições de trabalho e salário igual aos ganhos do segmento masculino que trabalhava na fábrica, à época.
O filme é tão bom que marca exatamente o que acontece quando mulheres resolvem se levantar contra a opressão e a desigualdade. 
Como processo dialético propulsor, os trabalhadores homens da montadora passam a ser demitidos por conta da paralisação das costureiras, pois, afinal, sem gente para costurar os bancos dos carros, a continuidade da produção de automóveis se tornaria abundante, sem chance de ser escoada no mercado automobilístico, uma vez que o processo de finalização do produto estava prejudicado com a greve. Ainda com todo o sarcasmo masculino em relação à mobilização das mulheres, estas continuam obstinadas em sua luta, até por fim, conseguirem, em reunião com a então Ministra do Emprego da Inglaterra, Barbára Castle, a aproximação do valor de seus salários em relação aos salários masculinos na Ford. A ministra, oriunda do Partido Trabalhista, teve de usar de artifícios políticos e econômicos com o presidente da multinacional no país, para que a greve fosse paralisada e para que a produção voltasse ao normal.
O filme retrata muito bem como o Capital se utiliza do machismo, dividindo homens e mulheres trabalhadores, que precisam de igualdade nos ganhos, independente de sexo. Neste sentido, é contada a forma mesquinha como o sindicato machista lidou com este "problema" da greve de mulheres que queriam isonomia salarial.
Muito bem retratada a questão do trabalho doméstico masculino ser requerido apenas na impossibilidade da mulher estar a frente de tais cuidados.
Excelente também o encontro de Rita O´Grady, líder da greve, com Lisa, historiadora que, casada com um dos barões da Ford, é agredida psicologicamente todos os dias por ele. A questão do empoderamento feminino por meio do trabalho é bem trabalhada no filme. Lisa, mesmo sendo rica, é uma das admiradoras do movimento por sentir que essa luta pode colocar a mulher em outro patamar, cultural e socialmente falando.
Bem, após muita luta destas mulheres valentes, cabe ressaltar que não só o salário das trabalhadoras da Ford se equiparou com o dos homens, como fora aprovada na Inglaterra, em 1970, o Projeto de Paridade Salarial, que criou um mecanismo legal para que todas as mulheres inglesas tivessem salários iguais aos dos homens.
Muito bom esse filme!
SUPER RECOMENDO!!!!