domingo, 31 de outubro de 2010

A pessoa com deficiência e as limitações arquitetônicas do meio físico

Desde que entrei na Faculdade Paulista de Serviço Social de São Caetano do Sul (FAPSS-SCS) enfrento mudanças.
Quando eu entrei, a FAPSS estava em um prédio só dela (dividia durante o dia com a Fundação das Artes) que era concedido pela Prefeitura de São Caetano por comodato. O método de ensino e avaliação era anual e eu tinha que trabalhar (à época trabalhava nas Casas Bahia - exploração total à você - de segunda à sábado) e fazer meus trabalhos no domingo. Estava cansada, mas mesmo assim adorava.
O primeiro susto que a minha turma teve foi a morte da professora Guerra, saudosa.
Nesta época houve um movimento estudantil muito forte na FAPSS em relação à insuficiência ou deficiência pedagógica do estágio supervisionado (obrigatório na grade curricular de tal curso, a partir do terceiro ano letivo). No outro ano não tivemos mudanças significativas. Exceto que a minha classe mudou de sala e sofremos um pouquinho com a falta de infra estrutura (tinha uma coluna no meio da sala, além dos vazamentos).
Mas quando fui para o terceiro ano... tudo desmoronou.
A FAPSS teve que sair às pressas do prédio porque o Aurichio (prefeito mafioso da cidade) precisava do espaço para oferecer cursos de qualificação voltados à professores do ensino básico. Alugamos um espaço no Campus I da USCS (Universidade de São Caetano do Sul). Lá percebemos desde então a falta de acessibilidade aos alunos deficientes. Concomitante a estas mudanças espaciais, a grade e o método de avaliação foi alterado para a semestralidade. À época haviam 10 matérias por semestre e você tinha que fechar o semestre no máximo com sete, ou ia pra DP.  
No terceiro ano, tivemos algumas lutas importantes, como as manifestações de repúdio e reuniões em torno do tema da não renovação da Certidão Negativa de Débitos, o que gerou anulação de vagas de estágio na Sedesc (Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania de SBC) - muitos alunos que faziam estágio no Sedesc foram transferidos para os CRASs da cidade - e o rompimento de convênios para bolsa de estudos, como no caso da bolsa oferecida pelo programa Escola da Família.
No quarto ano comecei a me inteirar mais dos assuntos e a estar mais presente no CA. E, podemos dizer: enfrentamos dias de luta.
Desde o início do ano percebemos o grau de dificuldade que os alunos deficientes enfrentavam dia após dia para ter seu direito de cidadão reconhecido.
Primeiramente, o direito de ir e vir é cerseado a todo o momento. O direito à uma educação de qualidade no ensino superior também.
Estávamos alocados no segundo andar do campus I da USCS e desde o início do ano o elevador estava com problema, quebrando constantemente. Até que no início do Semestre ele quebrou de vez. Ocorre que há quatro alunos deficientes  em nossa faculdade (três com dificuldade de locomoção e um deficiente visual) e estes tiveram que penar para garantir o seu direito à formação acadêmica: subiam quatro lances de escadas todos os dias. Uma moça que quase teve um infarto em sala de aula e que tem dificuldade de locomoção quase morreu ao descer todas aquelas escadas.
Quando chegou no térreo, o porteiro da USCS pediu para que alguém a levasse logo para o hospital para que ninguém percebesse o ato falho desta renomada instituição de ensino, em não prover as condições de acessibilidade necessárias a qualquer prédio público.
Uma outra estudante com dificuldade de locomoção sofreu desgaste no joelho, graças ao esforço diário de subir escadas.
Lutamos muito. O CA Gestão RealizaçõeSS fez um ato político histórico no corredor da FAPSS, com cartazes que continham palavras de ordem, reivindicando acessibilidade, diminuição das mensalidades, diminuição do valor das DPs e supressão do valor de rematrículas para DPs, etc. Tal ato fez com que a Coordenação Pedagógica chamasse uma reunião restrita com os alunos responsáveis pela organização de tal manifestação. Neste momento, todos os alunos se mobilizaram para que houvesse uma assembleia geral com todos os alunos, para que outros pontos fossem destacados pelo corpo discente.
Ou seja, a tentativa de particularizar a luta, por parte da Coordenação Pedagógica, não deu certo. E esta assembleia só ocorreu porque os alunos estavam atentos para aquele momento.
Após a Assembléia algumas das nossas reivindicações foram contempladas, exceto às de cunho administrativo como valor das mensalidades e retorno ao método anual de aula.
Alguns assuntos abordados no âmbito pedagógico, como o método de aula cheia, ficaram em aberto.
Em relação à acessibilidade, a USCS nos concedeu um espaço  no Campus II, próximo à Estação de trem.
Lá realmente tem mais acessibilidade aos deficientes.
Mas, com certeza, a USCS não nos tirou do Campus I apenas por conta da questão da falta de acessibilidade, por causa do elevador quebrado. O espaço em que estávamos seria utilizado para cursos da própria USCS.
Ou seja, o elevador permanecerá quebrado e outros estudantes precisarão dele.
Diante disto, mesmo após a mudança faremos uma denúncia pública ao MP de São Caetano do Sul, para que a USCS ajuste sua conduta em relação à falta de acessibilidade do Campus I e também do Campus II, onde estamos alocados no momento, uma vez que não há o piso pododátil - piso que auxilia os deficientes visuais.
O direito à acessibilidade tem que sair do papel e ser um direito efetivo. Cabe a nós, companheiros de luta no MESS (movimento estudantil de Serviço Social) lutarmos para que as Instituições de Ensino dêem toda a condição necessária para que ocorra a inclusão de pessoas deficientes em suas turmas.

POR ACESSIBILIDADE AOS DEFICIENTES EM TODAS AS INSTITUIÇÕES DE ENSINO!
PELO FIM DA EXCLUSÃO E DA DISCRIMINAÇÃO AOS DEFICIENTES!
PELO ENSINO DE LIBRAS ORBIGATÓRIO NA GRADE CURRICULAR, NOS CURSOS DE SERVIÇO SOCIAL!

A minha pessoa e a utilidade de tal blog

Sou feminista e tenho 22 anos. Sou quase assistente social: estou no último período do curso e correndo um pocado com as provas e com o TCC (nem tanto!).
O meu TCC abrangeu o tema do papel da assistente social na ação sócio educativa com mulheres vitimas de violência doméstica.
Construir o TCC foi muito importante para mim enquanto pessoa e enquanto militante.
Posso dizer que depois que entrei para o Serviço Social mudei muito, para melhor. Não tenho o mesmo olhar pragmático das coisas e hoje sei bem o que quero e sei como funciona o sistema capitalista e o patriarcado.  A consciência de tais fatos mudam a percepção dos sujeitos sobre as coisas do mundo, sobre as coisas que acontecem no mundo.
Em relação à minha posição ideo-política posso dizer que tenho plena convicção de ser solicialista, mas  pago um pau muito grande para o movimento anarcopunk, que eu acho muito importante, apesar de seu refluxo.
Neste blog pretendo falar sobre música, mídia, comportamento e política.

Fique a vontade para comentar.