quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Morre Heleieth Saffioti

Perda doída, notícia triste!
Segue texto publicado no blog da Fundação Perseu Ábramo, sobre a morte desta companheira querida!
Companheira Heleieth: presente!!!!

Faleceu a professora e pesquisadora feminista Heleieth Saffioti

publicado em 14/12/2010


Aos 76 anos, faleceu ontem, 13/12/2010, a professora Heleieth Saffioti, professora, pesquisadora e autora de livros sobre a situação das mulheres, incluindo "Gênero, patriarcado, violência" pela EFPA, em 2004 (o livro está esgotado e terá uma segunda reimpressão (atualizada segundo o novo acordo ortográfico) logo nos primeiros meses de 2011.
Nota de Tatau Godinho* sobre a professora Heleieth
Heleieth Saffioti é conhecida internacionalmente como uma das mais importantes pesquisadoras feministas do país. Seus estudos sobre a situação das mulheres no mercado de trabalho no Brasil, desde a década de 1960, são pioneiros na análise sobre as desigualdades entre mulheres e homens, as diversas formas de opressão e exploração no trabalho. Professora de Sociologia, aposentada, da UNESP, e do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP, nos últimos anos dedicou-se também ao estudo sobre a violência sexista, acompanhando de perto o problema no Brasil, com abordagem teórica sobre a violência de gênero e análise sobre as políticas públicas nessa área. Em sua homenagem, a instituição que desenvolve a política de apoio às mulheres vítimas de violência na cidade de Araraquara, inaugurado pela prefeitura em 2001, foi chamado Centro de Referência da Mulher “Heleieth Saffioti”.
Sempre identificada com posições de esquerda e progressistas, e sem temer a polêmica que as temáticas feministas costumam provocar, Heleith buscou compreender os mecanismos profundos da exploração das mulheres no capitalismo, insistindo com veemência na relação estrutural entre capitalismo, patriarcado e racismo. Sem abrir mão de suas convicções e com sólida formação acadêmica, Heleieth renovava em suas análises as referências teóricas marxistas e a elaboração dos estudos feministas. Como ela sempre dizia, o nó que amarra classe, gênero e raça constroi as dinâmicas de desigualdade na sociedade contemporânea.
Autora de mais de 12 livros sobre a situação das mulheres, estudos sobre gênero e teoria feminista, sua produção é uma contribuição indispensável para a sociologia brasileira. Sem medo de ser considerada uma defensora radical dos direitos das mulheres, a intelectual, pesquisadora e militante feminista, professora Heleieth Iara Bongiovani Saffioti é uma referência obrigatória na história da luta das mulheres no Brasil.

*Tatau Godinho, socióloga, militante do movimento de mulheres e integrante do Conselho Curador da Fundação Perseu Abramo

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Homofobia: a vergonha do século XXI

A homofobia tem se tornado um problema de segurança e de saúde públicas. Estamos em pleno século XXI, mas quando se trata do assunto homossexualidade ou bissexualidade, os atores sociais dos segmentos conservadores da sociedade buscam esteriotipar e colocar os comportamentos que fogem dos padrões heteronormativos como doença ou pecado.
Um grande exemplo é o Pr. Silas Malafaia, que não tem a vergonha de dizer que não se pode criminalizar a homofobia, pois isto expressaria um limite à liberdade de expressão e pensamento religioso. Não se cansa de dizer que o "homossexualismo" (a expressão "ismo" contida no final da palavra deflagra o sentido de que a homossexualidade implica doença) é pecado e que os homossexuais perecerão no inferno, se não voltarem à sua natureza conforme a criação de Deus: homem e mulher/cenora no figo, em outras palavras, vagina e pênis.
Estes ideólogos que colocam a homossexualidade como coisa anormal são uma versão mais tosca daqueles padres que queimavam as bruxas no século XVI e daqueles idiotas do período vitoriano que afirmavam que a mulher não podia sentir prazer na relação sexual. Ou seja, querendo ou não, o pastor Silas Malafaia e outros fariseus hipócritas contemporâneos tendem a submeter a relação sexual mediante a análise  de que o sexo serve apenas para reprodução.
Diante disto, vemos que não se dá importância à identidade de gênero das pessoas e nem à orientação sexual das mesmas. O que o pastor não sabe é que as pessoas têm orientações sexuais distintas, podendo ser heterossexual, homossexual e/ou bissexual e, mediante esta orientação, a pessoa assumirá determinada identidade de gênero, que pode ser, lésbica, gay, travesti, transexual ou transgênero.
Com isto, não é doença ou pecado assumir o que se sente. Doença é esconder aquilo que realmente é. Pecado consigo mesmo é não se permitir amar e ser amado por uma pessoa que realmente lhe interesse.
Além das manifestações mais amenas como no caso deste pastor acima citado ou do chanceler da reitoria da Universidade Mackenzie - uma das mais bem conceituadas universidades particulares de São Paulo (e uma das mais caras também) - houveram na cidade de São Paulo, entre os meses de Novembro e Dezembro, cerca de 5 ataques à homossexuais. O mais brutal deles - pelo menos o mais brutal dos que temos conhecimento - ocorreu numa manhã de domingo na avenida Paulista (veja o vídeo a seguir, se você ainda não viu). Um jovem menor de idade e de classe média atacou um rapaz que estava andando na rua com uma lâmpada florescente. O rapaz fez uma cirurgia no rosto para reparar os danos causados pela agressão.
Isto nos faz refletir sobre quais as pessoas que estamos formando hoje para serem os adultos do futuro.
Em uma sociedade falocêntrica e de ideologia burguesa imperam valores racistas, machistas e homofóbicos, que não respeitam a diversidade, presente nas subjetividades humanas e nas relações sociais. Portanto, há necessidade de se pensar a homofobia dentro dos parâmetros patriarcais e capitalistas nos quais estamos inseridos. Cabe a pergunta: Por que o Senado demora tanto para aprovar a lei contra homofobia, se os deputados aprovam em menos de um dia o reajuste de seus próprios salários? Por que o PNDH 3 não avançou em questões de suma importância para a garantia de direitos civis como o casamento homoafetivo e a legalização do aborto? Por que o presidente ex-metalúrgico, ex-sindicalista e sem dedo assinou o tosco "Acordo Brasil Vaticano", que prevê o ensino religioso nas escolas? Por que a nova presidente eleita recua quando se trata de casamento entre pessoas do mesmo sexo e descriminalização do aborto?
Estas são questões que devem ser refletidas antes de serem dadas respostas que reproduzem o estado de coisas. Obviamente, diante de todas estas questões pesam o fato do Brasil não ser um país realmente laico, como professa a Constituição Federal de 1988. O Brasil ainda tem muito de país feudal moderno, em que pesa o clero - catolico ou evangélico - e os senhores feudais, representados pelos coronéis do sertão, ou da mídia, ou dos grandes conglomerados de empresas. Este é um dos países em que a desigualdade de recursos e de oportunidades é mais presente, se comparado à países sulamericanos também em desenvolvimento, como Uruguai e Chile.
Por fim, continuo na minha tese de que a emancipação de gênero só se dará nos marcos da emancipação humana. Ou seja, na ultrapassagem desta sociedade indigna em que vivemos para um modelo de sociedade pautado na produção para suprimento das necessidades humanas, tanto materiais como espirituais, em que os homens se reconheçam no produto de seu trabalho, produzindo bens para o conjunto da sociedade, respeitando os limites naturais. Uma sociedade igualitária, em que todos tenham acesso aos bens produzidos pelo gênero humano. Somente assim e, por meio de uma contracultura feminista forte, poderemos vencer o capitalismo e todos os micro sistemas que o sustentam e dialeticamente são sustentados pelo modo de produção, quais sejam o machismo, o racismo e a homofobia.

Para finalizar, reproduzo um vídeo que achei no You Tube.
Cada vez mais se faz necessária a luta contra a homofobia, por meio de uma contra cultura que leve em conta a diversidade sexual e o respeito à identidade de gênero.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A xenofobia e os nordestinos em São Paulo



O meu nome é Severino,  
como não tenho outro de pia. 
Como há muitos Severinos, 
que é santo de romaria,  
deram então de me chamar 
Severino de Maria 
como há muitos Severinos 
com mães chamadas Maria, 
fiquei sendo o da Maria 
do finado Zacarias.  
  
Mais isso ainda diz pouco:  
há muitos na freguesia,  
por causa de um coronel  
que se chamou Zacarias  
e que foi o mais antigo  
senhor desta sesmaria.   
Como então dizer quem falo  
ora a Vossas Senhorias?  
Vejamos: é o Severino  
da Maria do Zacarias,  
lá da serra da Costela,  
limites da Paraíba.   
Mas isso ainda diz pouco:  
se ao menos mais cinco havia  
com nome de Severino  
filhos de tantas Marias  
mulheres de outros tantos,  
já finados, Zacarias,  
vivendo na mesma serra  
magra e ossuda em que eu vivia.   
Somos muitos Severinos 
iguais em tudo na vida:  
na mesma cabeça grande  
que a custo é que se equilibra,  
no mesmo ventre crescido  
sobre as mesmas pernas finas  
e iguais também porque o sangue,  
que usamos tem pouca tinta.   
E se somos Severinos  
iguais em tudo na vida,  
morremos de morte igual,  
mesma morte severina:  
que é a morte de que se morre  
de velhice antes dos trinta,  
de emboscada antes dos vinte  
de fome um pouco por dia  
(de fraqueza e de doença  
é que a morte severina  
ataca em qualquer idade,  
e até gente não nascida).   
Somos muitos Severinos  
iguais em tudo e na sina:  
a de abrandar estas pedras  
suando-se muito em cima,  
a de tentar despertar  
terra sempre mais extinta.


São muitos os severinos e severinas em São Paulo. Cada um com sua história particular, sofrendo profundamente as expressões de uma nova questão social que é coletiva.
Com certeza, é por causa da presença destes trabalhadores que a cidade de São Paulo se fez. Vieram para a cidade grande, fugindo da seca, da concentração de renda e de terras. Com um modelo de desenvolvimento centralizador, que visava impulsionar a industrialização em grandes metrópoles como São Paulo, pouco restou para o homem do campo sobreviver: teve que vir à cidade grande, deixando para trás sua família e cultura.
Apesar de serem peças fundamentais para o crescimento da metropole, muitas são as pessoas que os criticam e os agridem com atos e palavras. Conforme Arendt, há um apego afetivo no preconceito. E é verdade. Podemos ver isto no discurso daquela estudante de direito que disse que os nordestinos tinham de ser expulsos de São Paulo, ou mortos, sei lá as palavras que ela utilizou.
Pessoas assim integram a direita paulistana, totalmente reacionária, fascista e conservadora.
Não podemos admitir que os nordestinos sofram preconceitos como estes. Todos os brasileiros têm o direito de ir e vir e permancer onde bem desejar. Os nordestinos são brasileiros e, portanto, têm o direito de viver em qualquer região do Brasil.
Além do preconceito, este segmento enfrenta uma dura realidade todos os dias: a maioria deles vive em favelas, muitos em áreas de risco; a maioria dos nordestinos em São Paulo são subcontratados ou trabalham com contratos temporários, convivendo com a precarização extrema das relações de trabalho; os nordestinos em São Paulo formam o subproletareado urbano e, por isso, engrossam a massa de trabalhadores inúteis integrantes do imenso exército industrial de reserva; estudam em escolas públicas precarizadas, para que permaneçam em sua condição de subproletareado e presa fácil para terceirizadas e quarteirizadas.
Os nordestinos não vêm para São Paulo para superlotar as filas dos hospitais ou para arrancar o emprego de "quem nasceu no asfalto" como dizem os fascistas de plantão. Eles vêm para São Paulo fugindo da opressão imposta pelo coronelismo e pela exploração sem limites impostas pelo latifundio e pelo agronegócio.
E, portanto, pensar desenvolvimento é mais do que nunca pensar na questão agrária e urbana. A propriedade urbana e rural deve cumprir a sua função social, que com certeza não é a de especulação.

OS NORDESTINOS MERECEM RESPEITO!
CONTRA A PEQUENA BURGUESIA REACIONÁRIA E FACISTA!
PELA REFORMA AGRÁRIA E CONTRA O AGRONEGÓCIO: A TERRA PERTENCE A QUEM NELA TRABALHA!!!!!
PELA REFORMA URBANA: TODO APOIO AO MOVIMENTO DOS TRABALHADORES SEM TETO!!!

domingo, 21 de novembro de 2010

Pensam que a gente é mercadoria. VERGONHA!

Pois é, companheiros!
Hoje foi dia de boicote ao Enade. Dia de dizer não ao ranqueamento das universidades, não à Reforma Universitária e sim à uma avaliação crítica que de fato contemple a análise de todas as esferas do Ensino Superior brasileiro e, não apenas o desempenho dos alunos.
Mas, apenas três dias antes do tal exame, a mantenedora da FAPSS cumpriu um papel nefasto, manifestando um comportamento ultra antiético: aos estudantes do quarto ano, a FAPSS ofereceu um emprego de monitor/assistente social trainee para aqueles que tiverem melhor desempenho no TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) e melhor nota no Enade. Para os alunos do primeiro ano, a FAPSS ofeceu uma bolsa de estudo de 20% por seis meses aos alunos que tiverem boas notas no Enade.
Diante disto, nós, CA da FAPSS-SP e da FAPSS-SCS, fizemos um abaixo assinado para que o edital de bolsas de estudo se estendesse a todos os alunos e, não apenas aos alunos do primeiro ano que fizessem o Enade. Também fizemos um manifesto de repúdio ao ato da FAPSS de nos oferecer um emprego em troca do Enade. Não somos putos!!!! Temos dignidade! Não precisamos de um emprego temporário precário em troca da venda da nossa dignidade!
Além disso, a FAPSS coloca os alunos do quarto ano em franca concorrência, além de se aliar à precarização do trabalho, nos ofertando trabalho temporário e mal remunerado.
Esta oferta só esconde a real situação da FAPSS: não temos prédio próprio; nosso direito de organização é atacado todos os dias; a mantenedora não abre o diálogo para a redução de mensalidades e reversão do método semestral; boa parte dos alunos não tiveram as condições necessárias para estudar, como no caso dos alunos deficientes que não tiveram acessibilidade durante grande parte do ano letivo; os melhores professores estão indo embora, enquanto cresce o aparelhamento político-partidário petista.
Segue o nosso manifesto de repúdio, do qual participei da elaboração em conjunto com a companheira Natália, do segundo semestre e Andrea, do CA da FAPSS-SP. Mais tarde, postarei fotos do nosso ato!


MANIFESTO DE REPÚDIO DOS ALUNOS DA FAPSS-SP E FAPSS-SCS EM RELAÇÃO À POSTURA DA MANTENEDORA SOBRE O ENADE
Nós, dos Centros Acadêmicos e alunos da FAPSS-SP e da FAPSS-SCS, vimos por meio deste manifesto repudiar a posição da mantenedora em oferecer vagas de Assistentes Sociais/ Trainees para os alunos do 8º período mais bem colocados no ENADE (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes do Ensino Superior) juntamente com a nota referente ao Trabalho de Conclusão de Curso.
Compreendemos que este posicionamento da Instituição se dá sob a perspectiva mercadológica de ensino, tentando ofuscar as atuais falhas da FAPSS, tanto no que diz respeito à questão da infra-estrutura, como da questão da qualidade do ensino, que tem se precarizado ano após ano.
Consideramos este posicionamento da mantenedora antiético por acirrar a concorrência entre os alunos em nome de uma boa posição na média do ENADE e assim, ter seu nome entre as faculdades mais destacadas a oferecerem o curso de Serviço Social.
Com isto, exigimos a implantação de um Serviço Social universitário eficiente e que garanta a assistência estudantil. Entendemos que esse processo seletivo deve se estender prioritariamente aos ex-alunos formados pela FAPSS há mais tempo e que estão desempregados.
Da mesma forma, repudiamos também a oferta da mantenedora da FAPSS em oferecer “bolsas de estudo” de 20% aos alunos do 2º período que obtiverem média igual ou superior a 3 no ENADE. Na verdade, entendemos que não se trata efetivamente de uma bolsa de estudos, mas sim de um desconto que tem validade por apenas 6 meses e que atingirá um número insignificante do corpo discente.
Por isso, lançamos também um abaixo assinado pela abertura de edital para concessão de bolsas de estudo a todos os alunos.
O tripé ensino-pesquisa-extensão é um dos princípios da formação profissional contidos nas diretrizes da ABEPSS (Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social) e sua ausência é uma grande deficiência da faculdade. Não observamos, em nenhum momento, a manifestação da direção/mantenedora e/ou coordenação com propostas para o investimento na área de pesquisa e extensão.
Não acreditamos em uma avaliação institucional que tem como foco apenas o desempenho dos alunos!
 Nossa reivindicação está pautada na qualidade de ensino, que abrange o tripé ensino-pesquisa-extensão, melhorias na infra-estrutura e acessibilidade garantida.
Queremos construir uma faculdade que se consolide em bases democráticas, que garanta voz e voto aos estudantes e ofereça ensino de qualidade!
CENTRO ACADÊMICO - GESTÃO FENIX
CENTRO ACADÊMICO XV DE MAIO – GESTÃO REALIZAÇÕESS

sábado, 13 de novembro de 2010

Diga não ao ENADE!

Existem um milhão de motivos para se boicotar o Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes), mas para não falarem por ai que somos levianos com o assunto, vamos começar pelo começo.

Educação no Brasil contemporâneo

Vivemos atualmente o desmonte das políticas públicas sob a governança de um Estado neoliberal. Boa parte dos serviços públicos está sendo privatizada e precarizada, para que os gastos do Estado sejam redirecionados ao pagamento da dívida pública. Diante deste cenário, a educação superior vem assumindo um caráter mercadológico, em que o que importa não é a formação política e acadêmica dos alunos, evidenciando o diploma como mercadoria.
Nestes oito anos de governo Lula o aprofundamento da precarização da educação se deu de uma forma bastante populista e alienante. O governo criou incentivos como o PROUNI, para que os alunos de baixa renda pudessem estudar em faculdades pagas. Puro engodo! Para cada vaga de PROUNI o governo corta três vagas em faculdades públicas, indiretamente.  Ao invés de democratizar o acesso ao ensino superior público, laico e de qualidade, o governo brasileiro cria uma medida para que o pobre estude numa faculdade privada, onde o ensino é sucateado, reproduzindo o modelo de ensino superior como está postos: universidade pública para os ricos, universidade paga para os pobres.
Ademais, o Reuni – Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, implantado pelo governo federal – aumentou o número de alunos nas faculdades públicas, porém não houve o acompanhamento de recursos econômicos e de pessoal, precarizando a qualidade de ensino e aumentando o stress no trabalho para os professores.
Diante deste cenário, o governo criou medidas para avaliar o Ensino Superior, porém de forma bastante superficial para que ninguém enxergasse a situação dada. Com isto, o governo criou o Enade e o Sinaes.

ENADE: O QUE É? PRA QUE SERVE?

O Enade é o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes, faz parte do SINAES (Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior) e é voltado para os alunos do 1º e do 4º ano de cursos que incluam título de bacharelado, como no caso do Serviço Social. É um exame que avalia como o aluno entra no curso e como ele sai do curso, como se apenas em um dia de prova pudéssemos demonstrar a qualidade do ensino das faculdades e/ou universidades onde estamos matriculados.
Além disso, o ENADE tem algumas características muito importantes que merecem receber uma atenção especial por parte dos alunos, como por exemplo:
  • Ranqueamento das instituições de ensino superior: o Enade realiza a categorização das universidades em 5 níveis e, desta forma, os resultados do Enade são utilizados como propaganda para o mercado, enfatizando uma visão bastante mercadológica de educação, uma vez que as faculdades públicas boicotam o exame,  fazendo com que as faculdades pagas de ensino sucateado elevem seu conceito;
  • Obrigatoriedade: É obrigatória a presença dos alunos convocados no dia da prova no local determinado pra sua realização. Caso contrário, tal ocorrência constará como irregularidade no histórico escolar;
  • Fornecimento de Bolsas de estudo para pós graduação: Além de avaliar individualmente cada aluno, gera competitividade entre eles.
  • Desrespeito às diversidades regionais: a prova do Enade é a mesma em todo o território nacional, o que denota a falta de sensibilidade do governo em relação às particularidades sociais, políticas, econômicas e culturais de cada região e Estado brasileiro.
  • Avaliação restrita: o nosso processo de formação acadêmica não é avaliado. O nosso cotidiano acadêmico passa despercebido neste modelo de avaliação.
  • Por ser punitivo, o Enade não fornece formulações críticas e propositivas para intervenções que sanem ou diminuam problemas nas instituições de ensino superior.
  • O Enade não garante a melhoria das condições de ensino público, priorizando apenas a regulação e o controle do ensino superior.
  • O Enade foi imposto por medida provisória do Governo Federal, não havendo participação da sociedade no processo de construção do sistema de avaliação.
  • Desrespeita as particularidades do sistema de ensino superior brasileiro, uma vez que a complexidade e diversidade das instituições (universidades, centro universitários, faculdades, etc) têm suas particularidades, devendo o MEC (Ministério da Educação e Cultura) legitimar essa diversidade e avaliar de acordo com as especificidades de cada uma;
  • Centralização do Sistema de Avaliação: o CONAES (Comissão Nacional de Avaliação do Ensino Superior), comissão responsável pela elaboração do Enade é composta majoritariamente por representantes do MEC, havendo apenas um discente, um docente e um técnico administrativo. Isto demonstra que o processo de avaliação é centralizador, não havendo a participação de professores e alunos em sua elaboração.
Perguntas e respostas:

  1. Eu serei punido se não participar do Enade?
Não, a sua nota referente ao boicote (zero-0) não sairá no diploma e nem no histórico escolar. Apenas você terá acesso à sua nota individual e a sua escola terá acesso à nota média. Porém, você deve comparecer na data e horário da prova para assinar o exame e a lista de presença, senão tal irregularidade constará em seu histórico escolar e seu diploma ficará retido.

 2. A minha faculdade/universidade poderá fechar o curso do qual faço parte por causa do boicote?

Não. A instituição de ensino cujo os alunos boicotarem o Enade pode sofrer uma série de sanções, ou não. O governo pode deliberar em puní-la não concedendo bolsas de estudo como Fies e Prouni, nos próximos anos. Com certeza, o governo deixará de lhe conceder alguns recursos financeiros e, com isto, o curso pode perder um pouco de sua autonomia no contexto institucional da universidade. Porém, a instituição de ensino não perderá seu status. Um exemplo disso são as Universidades Públicas de São Paulo que boicotam o Enade, ou o próprio curso de Serviço Social da PUC-SP, que apesar de seus alunos sempre boicotarem o Enade, continua como um dos melhores cursos do Estado de São Paulo.
Não há a mínima possiblidade do curso fechar apenas por causa do boicote. Vale ressaltar que o aluno que tem Prouni ou FIES não deixará de participar de tais programas por ter boicotado o Exame.


Boicotar o ENADE significa fortalecer a luta contra a precarização do ensino, na busca de um ensino superior público e de qualidade, sem o funil social do vestibular e contra a privatização. Por uma avaliação de verdade: DIGA NÃO AO ENADE!


O rodeio das gordas e a imposição do padrão de beleza

Desde pequena vejo o que é considerado certo e errado no que diz respeito ao padrão de beleza. Padrão este que a mídia nos impõe, praticamente nos faz engolir goela abaixo.
Sempre fui contestadora dos padrões de beleza, mas confesso que tive complexo de inferioridade na adolescência. Não era a típica gostosa que passa na televisão e, em certa medida, me sentia um pouco mal por não corresponder.
Ocorre que nem todas as mulheres compreende o que está por trás de tais padrões de beleza. A verdade é que existem padrões para que as empresas de comésticos e as clínicas de estética lucrem com nossa baixa alto-estima e com a vergonha do nosso próprio corpo.
Para a mulher trabalhadora o padrão de beleza atual é inalcansável. Mas, ela tentará atingí-lo comprando um aparelho de ginástica, um creme milagroso ou juntando dinheiro e fazendo uma cirurgia plástica, para reduzir o estômago ou aumentar os seios.
Quando estamos próximos do início do verão as coisas pioram: todos os programas femininos rídiculos que passam na tv ficam colocando a necessidade de se perder peso e de entrar com "tudo encima" no verão.
Muitas são as mulheres que perdem a saúde e até mesmo a vida se arriscando em métodos invasivos para conseguir o corpo ideal. Muitas adolescentes sofrem de transtornos alimentares graças à programas femininos, reality shows, dentre outras baboseiras enlatadas que colocam os corpos femininos como meras mercadorias a serviço do macho.
Pois bem, diante disto, percebemos que a sociedade reforça tal padrão sem ao menos questioná-lo. Nem os jovens de classe média alta que passam em um vestibular e têm a sorte de estudar em uma das melhores universidades públicas do país deixam de reproduzir o que a sociedade machista e falocêntrica coloca. Grande exemplo disso é o "Rodeio das gordas" realizado no Interunesp deste ano. Há relatos de que esta atrocidade vem ocorrendo desde 2006.
Estes jovens, quase sempre ricos, criados como reis em um contexto de ideologia machista e burguesa, que procura oprimir o mais fraco o tempo todo, humilham jovens acima do peso, se divertindo às custas da humilhação de uma mulher, que não corresponde aos padrões de beleza.
Ora, ocorre neste caso, além da agressão física imposta a tais mulheres, o cerceamento da liberdade das mesmas que têm todo o direito de ir e vir dentro da universidade, além de terem o direito irrevogável de participar de uma festa, sem serem humilhadas e oprimidas por isto.
E é com a finalidade de lançar um pequeno manifesto, que lanço as seguintes palavras de ordem:


  • TODO APOIO ÁS ESTUDANTES AGREDIDAS! POR UMA PUNIÇÃO VERDADEIRA AOS AGRESSORES;
  • NÃO AOS PADRÕES DE BELEZA IMPOSTOS PELO CAPITALISMO; NÃO SOMOS MERCADORIAS;
  • NÃO SOMOS OBJETO DE DESEJO, MAS SIM SUJEITOS DESEJANTES!


domingo, 7 de novembro de 2010

Errata

No post anterior sobre o manifesto, onde está escrito "Coordenação Pedagógica", leia-se "Coordenação do Departamento de Estágio".


Abraços, voltarei a postar amanhã, se melhorar um pouco da gripe que peguei no Encontro da ANEL, realizada no sábado.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Um estagiário revoltado incomoda muita gente, muitos estagiários revoltados incomodam muito mais

Hoje, uma amiga minha de sala me procurou para contar sua história. Ela sabe que eu sou do CA e, por isso, ela queria que eu a ajudasse numa questão muito importante: a questão do estágio supervisionado em Serviço Social.
Neste curso, o aluno é obrigado a fazer o estágio supervisionado por uma assistente social a partir do terceiro ano de curso e, para cada ano letivo é estipulado uma quantidade de horas para compor a formação acadêmica do aluno. Aproxidamante, são estipuladas 300 horas de estágio obrigatório para alunos do terceiro ano e 200 para alunos que cursam o 4º ano.
Ocorre que se o aluno não cumprir a carga horária, o mesmo deverá cumprí-la após sua colação de grau. E a Coordenação Pedagógica da faculdade não quer saber se você não conseguiu estágio (a faculdade não consegue estágio pro aluno), ou se você não pode sair do seu emprego no qual trabalha em regime CLT e tem filhos, casa pra sustentar e a faculdade pra pagar (estagiário de Serviço Social é muito mal remunerado). A faculdade penaliza o aluno, quando este sai do estágio pelas condições precárias em que se dava, como no caso da minha amiga... aquela mesma que me procurou hoje.
Fato é que devemos refletir sobre o papel importantíssimo que o estagiário, de uma forma geral, tem para o capital. É um dos TRABALHADORES mais explorado e mais vilipendiado de nossa classe. As instituições empregadoras o oprime com a defesa de que o estagiário está no campo de estágio para aprender e não para ganhar bem. Ou seja, nega-se o fato de que o estagiário é uma pessoa que tem que pagar uma mensalidade altíssima na faculdade e ainda se manter ou, mais do que isso, sustentar sua família.
Diante deste contexto, exponho abaixo um manifesto que eu produzi agora a pouca e que retrata a história da minha amiga do início do post.
Vale para refletirmos.

Manifesto de Repúdio

Nós, alunos do CA e do corpo discente da FAPSS, vimos por meio deste instrumento repudiar a maneira como a Coordenação de Estágio tem implantado a Política Nacional de Estágio na Instituição.
Algumas alunas do quarto ano terão que fazer estágio no próximo ano, mesmo formadas, para completarem sua carga horária de estágio supervisionado. Ocorre que estas alunas só não completaram a carga horária porque, no 3º ano, tiveram que sair do estágio pelas condições precárias em que o mesmo se dava. O campo de estágio do qual estamos nos referindo é a Instituição Estrela Azul de Mauá, na qual as meninas faziam estágio apenas aos Sábados.
Lá, as estagiárias eram submetidas a condições humilhantes de aprendizagem, além de estarem diante de uma supervisora totalmente autoritária e preconceituosa, que reproduzia a desigualdade social em seu discurso. Estas mesmas alunas, devido às precárias condições do estágio, decidiram sair da instituição, deixando a Coordenação de Estágio ciente de todos os problemas que lá ocorriam. Além disso, a Profª Angela, responsável pela Coordenação na FAPSS, tomou ciência dos fatos e incentivou a saída de tais estagiárias da Instituição.
 Neste sentido, podemos dizer que muito tem se cobrado do aluno/estagiário e pouco da Coordenação de Estágio, como mediadora entre campo de atuação e aluno. A Coordenação apenas está preocupada com o fato de que o aluno cumpra as horas de estágio estabelecidas, mas não tem se importado com a qualidade dos campos de atuação e supervisores acadêmicos. Haja vista, que o convênio com a referida instituição não foi cancelado, permanecendo a entidade como campo de estágio autorizado pela Coordenação.
Desta forma, exigimos uma mudança de postura por parte da Coordenação Pedagógica, que deve fiscalizar os campos de estágio mais de perto, excluir de seus quadros os estágios precarizados e que não enriqueçam a formação profissional do aluno, além de não incluir como campo de estágio, os estágios que forcem o aluno a exercer atividades que estão além de suas atribuições enquanto estagiário. Repudiamos a inserção de empresas nos quadros da Coordenação de Estágio como campo de atuação que não ofereçam bolsas de estudo aos estudantes e que, ao invés de remunerar decentemente um estudante que precisa pagar sua faculdade, continua lucrando bilhões de dólares em tempos de crise, de demissão em massa e de implantação de trabalho terceirizado e desprotegido em suas fábricas, como no caso da GM do Brasil que abriu uma vaga de estágio para alunos da FAPSS, sem remuneração, para estagiar alguns dias na semana.
Não estamos querendo dizer com isto que somos contra o estágio supervisionado. Porém, somos contra a forma como esta disciplina é implantada pela Coordenação de Estágio, de forma impositiva e sem flexibilidade no que se refere ao não cumprimento das horas de estágio estipuladas. E, portanto, defendemos também uma carga horária menor de estágio supervisionado no terceiro ano de curso, para que o aluno não fique tão defasado no que se refere aos seguros e auxílios da Previdência Social, quando deles necessitar.
Cobramos também do departamento de estágio que dobre a fiscalização sobre os estágios supervisionados que ocorrem no final de semana e em alguns dias da semana. Tais estágios tendem a sobrecarregar o aluno de trabalho, sem oferecer  elementos importantes para a formação acadêmica e profissional do aluno, que requer reflexão e pausa para discussão com equipe social e interdisciplinar.

Diante disto, exigimos:
  • Pela retirada da instituição Estrela Azul dos quadros de campo de estágio da FAPSS;
  • Exclusão do quadro de todas as instituições que exploram e não se comprometem com a formação do aluno;
  • Por uma averiguação imediata da Coordenação de Estágio em todos os campos de estágio;
  • Pela anistia às alunas que estagiavam no Estrela Azul.  Elas não precisam pagar por um erro cometido pela Coordenação de Estágio e por sua supervisora.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Somos todos escravos sulamericanos


Sim, há trabalho escravo em São Paulo, sobretudo no ramo da indústria de confecção!
A força de trabalho escrava, porém, não é nativa. Vem, em sua marioria, do Paraguai e da Bolívia, sendo composta majoritariamente por mulheres.
Segundo a revista Caros Amigos do mês de Julho de 2010, tais trabalhadores sulamericanos tornam-se presas fáceis nas mãos dos capitalistas escravagistas, por conta dos baixos níveis de escolaridade e das precárias condições de vida no país de origem.
Estes trabalhadores vêm à São Paulo por meio dos atravessadores, denominados também como "coiotes".
Os mesmos trabalhadores são incorporados à indústrias têxteis terceirizadas que produzem para grandes magazines como Mariza, Renner, Riachuelo, Pernambucanas, Collins, dentre outras.
As jornadas de trabalho são extenuantes, a liberdade é cerseada a todo o momento e as condições de trabalho são muito precárias. Estima-se que um trabalhador ganhe de R$0,40 à R$ 1,50 por peça. Além disso, conforme reportagem da revista Claudia do mês de Junho, há relatos de que crianças, filhos de tais trabalhadores, brincam ao lado das máquinas, sem nenhuma segurança. As camas ficam todas na oficina, para que não haja perda de tempo na produção.
Há relatos que afirmam que há cães de grande porte nos quintais de tais indústrias, impedindo a "fuga" destes trabalhadores, que precisam sanar suas dívidas de viagem, alojamento e alimentação aos industriais.
Outro fato que pesa é a condição ilegal de tais imigrantes no Brasil.
Quando autuadas pelo Ministério do Trabalho, as empresas que vendem a produção de tais indústrias escravagistas, afirmam que não sabiam do fato, pois trabalham com o sistema de terceirização.


----------------PRÉVIA DO CONTESTO INTERNO E EXTERNO-------------
O neoliberalismo preconiza a existência de um exército de reserva para que a taxa de desemprego esteja sempre em níveis aceitáveis para a concorrência entre os trabalhadores, visando o aumento dos lucros das empresas . Esse exército de reserva se reproduz por meio da desigualdade social e da miséria que assola os países capitalistas periféricos, como é o caso de países sulamericanos como o Brasil, o Paraguai e a Bolívia. Num contexto de internacionalização da economia, as grandes corporações buscam incentivos fiscais e força de trabalho barata para se estabelecer em países em desenvolvimento.
Fato é que no Brasil, os trabalhadores têm vivido sob péssimas condições de trabalho, sem a segurança previdenciária desejada, nos casos dos trabalhadores terceirizados e subcontratados. Apesar dos anúncios populistas do governo Lula afirmarem que o desemprego diminuiu no Brasil, é fato que tais trabalhadores estão sendo inseridos no mercado de trabalho de forma precária e subcontratada, muitas vezes como temporários.
No caso dos trabalhadores sulamericanos escravizados em São Paulo, é bom que se diga que quem utiliza da força de trabalho escrava também é boliviano ou paraguaio. Ou seja, aqueles que vieram para São Paulo também como escravos, passam a explorar seus conterrâneos, se utilizando da miserabilidade de seu povo.
Frente a isto, podemos dizer que não existe o conceito de nação no capitalismo e nem nunca existiu, apesar da propaganda elitista fazer a afirmação da "defesa da nação" em momentos de crise econômica. Existem, sim, duas classes sociais: a classe trabalhadora contra a classe burguesa, ainda que esta última seja a pequena burguesia que explora ao máximo a força de trabalho dos trabalhadores que não têm como sobreviver em seu país de origem.




----IMPULSIONAR UMA GRANDE CAMPANHA CONTRA O TRABALHO ESCRAVO----
Nós, socialistas precisamos estar ao lado dos trabalhadores que sofrem com a precarização das relações de trabalho nos marcos do neoliberalismo. E, por isso, devemos impulsionar uma ampla campanha contra o trabalho escravo no Brasil. Comecemos com o boicote às empresas que vendem os produtos da força de trabalho escrava e semi-escrava. Vamos boicotar Marisa, Renner, Riachuelo e afins. Vamos boicotar também as próprias indústrias têxteis que utilizam trabalho escravo, muito conhecidas dos consumidores, como a Hering e a Marisol.
Depois disso, devemos nos mostrar solidários aos sulamericanos que vivem em São Paulo e são vulneráveis a ação dos escravagistas.


Diga não aos produtos do trabalho escravo!
Pela organização independente dos trabalhadores!
Pela regulamentação de todos os estrangeiros no Brasil, para que os mesmos possam compartilhar de direitos com os cidadãos nativos!
Por uma fiscalização efetiva do Ministério do Trabalho!
Pela punição dos "barões da moda"!

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A eleição de Dilma e a questão do aborto

Uma mulher na presidência!
Para nós, mulheres trabalhadoras, tanto faz! Serão mais quatro anos de barbárie, pelo menos no que concerne à criminalização do aborto.
Dilma, havia dito em um primeiro momento de sua candidatura que o aborto é uma questão de saúde pública. Porém, voltou atrás. Na eminência do segundo turno, fez aliança com Igrejas Católicas e Evangélicas, escrevendo uma carta de compromisso onde dizia ser contra o aborto e a que a Legislação sobre o tema não seria alterada sob seu governo.
Pensemos, então, sobre quem são as mulheres que abortam: estudos mais recentes revelam que as mulheres que abortam são casadas, têm uma vida financeira estável e já têm mais que um filho. Porém, como não há dados concretos sobre o aborto, pelo fato do mesmo ser ilegal em qualquer caso que não seja o de estupro e de risco de vida à mãe, não podemos explanar com um número absolutamente fiel em relação à quantidade de mulheres que optam por interromper a gravidez, mas estima-se que cerca de um milhão de mulheres abortam todos os anos no Brasil.
Em uma sociedade de classes, as mulheres que têm dinheiro para pagar por um aborto seguro o fazem por R$ 4.000,00 em clínicas clandestinas chiques. As mulheres que não têm dinheiro para interromper a gravidez pagam com a vida. São submetidas aos piores métodos para abortar, uma vez que engravidaram por que não utilizaram contraceptivos eficientes e sofrem com o machismo e com a falta de educação sexual nas escolas. Educação esta que se limita a explicar como as meninas engravidam, mas não explicam como se dá a sexualidade na adolescência.
Vemos, portanto, o machismo imperando sob a consciência popular: se a mulher aborta é uma vadia que merece ser presa, se ela é pobre e tem sete filhos, ela é uma vadia que só sabe abrir as pernas. Enfim, a mulher pobre e, na maioria das vezes, negra é sempre a penalizada pela sua condição de mãe ou de mulher que escolhe pelo aborto.
Mas voltemos à candidatura Dilma e Serra. Entre um que é viementemente contra o aborto e prefere criminalizar as mulheres que escolhem por si,  temos outra candidata que disse ser contra o aborto, mas disse ainda mais: afirmou que a mulher que aborta deve receber atendimento no SUS, não devendo ser presa, mas receber atendimento das decorrências do aborto.
Ora, se a mulher não pode fazer um aborto descente no SUS, sendo tratada apenas das decorrencias negativas de tal ato apenas depois do procedimento inseguro, quais os ganhos para esta mulher? Ela, com certeza, chegará no hospital do SUS com hemorragias e demais sintomas que colocam sua vida em sofrimento e em risco. Ou seja, a mulher está sendo penalizada de qualquer forma. Pode até não ser presa, mas poderá pagar com sua vida pelo ato que, segundo a sociedade brasileira conservadora, é um crime.
Além disso, sabemos muito bem como funciona o SUS. A mulher que optar por um aborto clandestino terá que esperar filas e burocracia para ser atendida. Neste sentido, não seria mais fácil legalizar o aborto e oferecê-lo no SUS de forma gratuíta e segura?
Sou contra todo e qualquer tipo de religião. Concordo com o velho Marx quando este afirma que a religião é ópio do povo e, ademais, tem submetido as mulheres à condições vexatórias. Vide o apedrejamento na palestina e o casamento de meninas de 7 anos com marmanjos de 25. Vide a Bíblia que coloca a mulher  sempre como a vilã da história, um ser que é apenas decorrência do homem, sendo este a matriz da humanidade.
De fato, Dilma não irá legalizar o aborto. Haja vista o acordo assinado entre Brasil e Vaticano no ano de 2009. Acordo totalmente inconstitucional, uma vez que fere o princípio do Estado laico.
A intervenção da Igreja volta a ter peso sob o Estado burguês, como nos tempos do feudalismo. O estado burguês, neoliberal assume uma forma cristã, que deve ser rechaçada pelos movimentos feministas, de mulheres e de direitos humanos.
Por isso, engrosso a campanha do Pão e Rosas pela legalização do aborto!

MAIS NENHUMA MULHER MORTA POR TER ABORTADO!
BASTA DE INTERVENÇÃO RELIGIOSA NO ESTADO E NA SOCIEDADE! ESTA HIPOCRISIA CAUSA HEMORRAGIA!
POR UMA EDUCAÇÃO NO ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO QUE CONTEMPLE A QUESTÃO DA SEXUALIDADE E DA DIVERSIDADE SEXUAL!

domingo, 31 de outubro de 2010

A pessoa com deficiência e as limitações arquitetônicas do meio físico

Desde que entrei na Faculdade Paulista de Serviço Social de São Caetano do Sul (FAPSS-SCS) enfrento mudanças.
Quando eu entrei, a FAPSS estava em um prédio só dela (dividia durante o dia com a Fundação das Artes) que era concedido pela Prefeitura de São Caetano por comodato. O método de ensino e avaliação era anual e eu tinha que trabalhar (à época trabalhava nas Casas Bahia - exploração total à você - de segunda à sábado) e fazer meus trabalhos no domingo. Estava cansada, mas mesmo assim adorava.
O primeiro susto que a minha turma teve foi a morte da professora Guerra, saudosa.
Nesta época houve um movimento estudantil muito forte na FAPSS em relação à insuficiência ou deficiência pedagógica do estágio supervisionado (obrigatório na grade curricular de tal curso, a partir do terceiro ano letivo). No outro ano não tivemos mudanças significativas. Exceto que a minha classe mudou de sala e sofremos um pouquinho com a falta de infra estrutura (tinha uma coluna no meio da sala, além dos vazamentos).
Mas quando fui para o terceiro ano... tudo desmoronou.
A FAPSS teve que sair às pressas do prédio porque o Aurichio (prefeito mafioso da cidade) precisava do espaço para oferecer cursos de qualificação voltados à professores do ensino básico. Alugamos um espaço no Campus I da USCS (Universidade de São Caetano do Sul). Lá percebemos desde então a falta de acessibilidade aos alunos deficientes. Concomitante a estas mudanças espaciais, a grade e o método de avaliação foi alterado para a semestralidade. À época haviam 10 matérias por semestre e você tinha que fechar o semestre no máximo com sete, ou ia pra DP.  
No terceiro ano, tivemos algumas lutas importantes, como as manifestações de repúdio e reuniões em torno do tema da não renovação da Certidão Negativa de Débitos, o que gerou anulação de vagas de estágio na Sedesc (Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania de SBC) - muitos alunos que faziam estágio no Sedesc foram transferidos para os CRASs da cidade - e o rompimento de convênios para bolsa de estudos, como no caso da bolsa oferecida pelo programa Escola da Família.
No quarto ano comecei a me inteirar mais dos assuntos e a estar mais presente no CA. E, podemos dizer: enfrentamos dias de luta.
Desde o início do ano percebemos o grau de dificuldade que os alunos deficientes enfrentavam dia após dia para ter seu direito de cidadão reconhecido.
Primeiramente, o direito de ir e vir é cerseado a todo o momento. O direito à uma educação de qualidade no ensino superior também.
Estávamos alocados no segundo andar do campus I da USCS e desde o início do ano o elevador estava com problema, quebrando constantemente. Até que no início do Semestre ele quebrou de vez. Ocorre que há quatro alunos deficientes  em nossa faculdade (três com dificuldade de locomoção e um deficiente visual) e estes tiveram que penar para garantir o seu direito à formação acadêmica: subiam quatro lances de escadas todos os dias. Uma moça que quase teve um infarto em sala de aula e que tem dificuldade de locomoção quase morreu ao descer todas aquelas escadas.
Quando chegou no térreo, o porteiro da USCS pediu para que alguém a levasse logo para o hospital para que ninguém percebesse o ato falho desta renomada instituição de ensino, em não prover as condições de acessibilidade necessárias a qualquer prédio público.
Uma outra estudante com dificuldade de locomoção sofreu desgaste no joelho, graças ao esforço diário de subir escadas.
Lutamos muito. O CA Gestão RealizaçõeSS fez um ato político histórico no corredor da FAPSS, com cartazes que continham palavras de ordem, reivindicando acessibilidade, diminuição das mensalidades, diminuição do valor das DPs e supressão do valor de rematrículas para DPs, etc. Tal ato fez com que a Coordenação Pedagógica chamasse uma reunião restrita com os alunos responsáveis pela organização de tal manifestação. Neste momento, todos os alunos se mobilizaram para que houvesse uma assembleia geral com todos os alunos, para que outros pontos fossem destacados pelo corpo discente.
Ou seja, a tentativa de particularizar a luta, por parte da Coordenação Pedagógica, não deu certo. E esta assembleia só ocorreu porque os alunos estavam atentos para aquele momento.
Após a Assembléia algumas das nossas reivindicações foram contempladas, exceto às de cunho administrativo como valor das mensalidades e retorno ao método anual de aula.
Alguns assuntos abordados no âmbito pedagógico, como o método de aula cheia, ficaram em aberto.
Em relação à acessibilidade, a USCS nos concedeu um espaço  no Campus II, próximo à Estação de trem.
Lá realmente tem mais acessibilidade aos deficientes.
Mas, com certeza, a USCS não nos tirou do Campus I apenas por conta da questão da falta de acessibilidade, por causa do elevador quebrado. O espaço em que estávamos seria utilizado para cursos da própria USCS.
Ou seja, o elevador permanecerá quebrado e outros estudantes precisarão dele.
Diante disto, mesmo após a mudança faremos uma denúncia pública ao MP de São Caetano do Sul, para que a USCS ajuste sua conduta em relação à falta de acessibilidade do Campus I e também do Campus II, onde estamos alocados no momento, uma vez que não há o piso pododátil - piso que auxilia os deficientes visuais.
O direito à acessibilidade tem que sair do papel e ser um direito efetivo. Cabe a nós, companheiros de luta no MESS (movimento estudantil de Serviço Social) lutarmos para que as Instituições de Ensino dêem toda a condição necessária para que ocorra a inclusão de pessoas deficientes em suas turmas.

POR ACESSIBILIDADE AOS DEFICIENTES EM TODAS AS INSTITUIÇÕES DE ENSINO!
PELO FIM DA EXCLUSÃO E DA DISCRIMINAÇÃO AOS DEFICIENTES!
PELO ENSINO DE LIBRAS ORBIGATÓRIO NA GRADE CURRICULAR, NOS CURSOS DE SERVIÇO SOCIAL!

A minha pessoa e a utilidade de tal blog

Sou feminista e tenho 22 anos. Sou quase assistente social: estou no último período do curso e correndo um pocado com as provas e com o TCC (nem tanto!).
O meu TCC abrangeu o tema do papel da assistente social na ação sócio educativa com mulheres vitimas de violência doméstica.
Construir o TCC foi muito importante para mim enquanto pessoa e enquanto militante.
Posso dizer que depois que entrei para o Serviço Social mudei muito, para melhor. Não tenho o mesmo olhar pragmático das coisas e hoje sei bem o que quero e sei como funciona o sistema capitalista e o patriarcado.  A consciência de tais fatos mudam a percepção dos sujeitos sobre as coisas do mundo, sobre as coisas que acontecem no mundo.
Em relação à minha posição ideo-política posso dizer que tenho plena convicção de ser solicialista, mas  pago um pau muito grande para o movimento anarcopunk, que eu acho muito importante, apesar de seu refluxo.
Neste blog pretendo falar sobre música, mídia, comportamento e política.

Fique a vontade para comentar.