sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A xenofobia e os nordestinos em São Paulo



O meu nome é Severino,  
como não tenho outro de pia. 
Como há muitos Severinos, 
que é santo de romaria,  
deram então de me chamar 
Severino de Maria 
como há muitos Severinos 
com mães chamadas Maria, 
fiquei sendo o da Maria 
do finado Zacarias.  
  
Mais isso ainda diz pouco:  
há muitos na freguesia,  
por causa de um coronel  
que se chamou Zacarias  
e que foi o mais antigo  
senhor desta sesmaria.   
Como então dizer quem falo  
ora a Vossas Senhorias?  
Vejamos: é o Severino  
da Maria do Zacarias,  
lá da serra da Costela,  
limites da Paraíba.   
Mas isso ainda diz pouco:  
se ao menos mais cinco havia  
com nome de Severino  
filhos de tantas Marias  
mulheres de outros tantos,  
já finados, Zacarias,  
vivendo na mesma serra  
magra e ossuda em que eu vivia.   
Somos muitos Severinos 
iguais em tudo na vida:  
na mesma cabeça grande  
que a custo é que se equilibra,  
no mesmo ventre crescido  
sobre as mesmas pernas finas  
e iguais também porque o sangue,  
que usamos tem pouca tinta.   
E se somos Severinos  
iguais em tudo na vida,  
morremos de morte igual,  
mesma morte severina:  
que é a morte de que se morre  
de velhice antes dos trinta,  
de emboscada antes dos vinte  
de fome um pouco por dia  
(de fraqueza e de doença  
é que a morte severina  
ataca em qualquer idade,  
e até gente não nascida).   
Somos muitos Severinos  
iguais em tudo e na sina:  
a de abrandar estas pedras  
suando-se muito em cima,  
a de tentar despertar  
terra sempre mais extinta.


São muitos os severinos e severinas em São Paulo. Cada um com sua história particular, sofrendo profundamente as expressões de uma nova questão social que é coletiva.
Com certeza, é por causa da presença destes trabalhadores que a cidade de São Paulo se fez. Vieram para a cidade grande, fugindo da seca, da concentração de renda e de terras. Com um modelo de desenvolvimento centralizador, que visava impulsionar a industrialização em grandes metrópoles como São Paulo, pouco restou para o homem do campo sobreviver: teve que vir à cidade grande, deixando para trás sua família e cultura.
Apesar de serem peças fundamentais para o crescimento da metropole, muitas são as pessoas que os criticam e os agridem com atos e palavras. Conforme Arendt, há um apego afetivo no preconceito. E é verdade. Podemos ver isto no discurso daquela estudante de direito que disse que os nordestinos tinham de ser expulsos de São Paulo, ou mortos, sei lá as palavras que ela utilizou.
Pessoas assim integram a direita paulistana, totalmente reacionária, fascista e conservadora.
Não podemos admitir que os nordestinos sofram preconceitos como estes. Todos os brasileiros têm o direito de ir e vir e permancer onde bem desejar. Os nordestinos são brasileiros e, portanto, têm o direito de viver em qualquer região do Brasil.
Além do preconceito, este segmento enfrenta uma dura realidade todos os dias: a maioria deles vive em favelas, muitos em áreas de risco; a maioria dos nordestinos em São Paulo são subcontratados ou trabalham com contratos temporários, convivendo com a precarização extrema das relações de trabalho; os nordestinos em São Paulo formam o subproletareado urbano e, por isso, engrossam a massa de trabalhadores inúteis integrantes do imenso exército industrial de reserva; estudam em escolas públicas precarizadas, para que permaneçam em sua condição de subproletareado e presa fácil para terceirizadas e quarteirizadas.
Os nordestinos não vêm para São Paulo para superlotar as filas dos hospitais ou para arrancar o emprego de "quem nasceu no asfalto" como dizem os fascistas de plantão. Eles vêm para São Paulo fugindo da opressão imposta pelo coronelismo e pela exploração sem limites impostas pelo latifundio e pelo agronegócio.
E, portanto, pensar desenvolvimento é mais do que nunca pensar na questão agrária e urbana. A propriedade urbana e rural deve cumprir a sua função social, que com certeza não é a de especulação.

OS NORDESTINOS MERECEM RESPEITO!
CONTRA A PEQUENA BURGUESIA REACIONÁRIA E FACISTA!
PELA REFORMA AGRÁRIA E CONTRA O AGRONEGÓCIO: A TERRA PERTENCE A QUEM NELA TRABALHA!!!!!
PELA REFORMA URBANA: TODO APOIO AO MOVIMENTO DOS TRABALHADORES SEM TETO!!!

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