quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Um estagiário revoltado incomoda muita gente, muitos estagiários revoltados incomodam muito mais

Hoje, uma amiga minha de sala me procurou para contar sua história. Ela sabe que eu sou do CA e, por isso, ela queria que eu a ajudasse numa questão muito importante: a questão do estágio supervisionado em Serviço Social.
Neste curso, o aluno é obrigado a fazer o estágio supervisionado por uma assistente social a partir do terceiro ano de curso e, para cada ano letivo é estipulado uma quantidade de horas para compor a formação acadêmica do aluno. Aproxidamante, são estipuladas 300 horas de estágio obrigatório para alunos do terceiro ano e 200 para alunos que cursam o 4º ano.
Ocorre que se o aluno não cumprir a carga horária, o mesmo deverá cumprí-la após sua colação de grau. E a Coordenação Pedagógica da faculdade não quer saber se você não conseguiu estágio (a faculdade não consegue estágio pro aluno), ou se você não pode sair do seu emprego no qual trabalha em regime CLT e tem filhos, casa pra sustentar e a faculdade pra pagar (estagiário de Serviço Social é muito mal remunerado). A faculdade penaliza o aluno, quando este sai do estágio pelas condições precárias em que se dava, como no caso da minha amiga... aquela mesma que me procurou hoje.
Fato é que devemos refletir sobre o papel importantíssimo que o estagiário, de uma forma geral, tem para o capital. É um dos TRABALHADORES mais explorado e mais vilipendiado de nossa classe. As instituições empregadoras o oprime com a defesa de que o estagiário está no campo de estágio para aprender e não para ganhar bem. Ou seja, nega-se o fato de que o estagiário é uma pessoa que tem que pagar uma mensalidade altíssima na faculdade e ainda se manter ou, mais do que isso, sustentar sua família.
Diante deste contexto, exponho abaixo um manifesto que eu produzi agora a pouca e que retrata a história da minha amiga do início do post.
Vale para refletirmos.

Manifesto de Repúdio

Nós, alunos do CA e do corpo discente da FAPSS, vimos por meio deste instrumento repudiar a maneira como a Coordenação de Estágio tem implantado a Política Nacional de Estágio na Instituição.
Algumas alunas do quarto ano terão que fazer estágio no próximo ano, mesmo formadas, para completarem sua carga horária de estágio supervisionado. Ocorre que estas alunas só não completaram a carga horária porque, no 3º ano, tiveram que sair do estágio pelas condições precárias em que o mesmo se dava. O campo de estágio do qual estamos nos referindo é a Instituição Estrela Azul de Mauá, na qual as meninas faziam estágio apenas aos Sábados.
Lá, as estagiárias eram submetidas a condições humilhantes de aprendizagem, além de estarem diante de uma supervisora totalmente autoritária e preconceituosa, que reproduzia a desigualdade social em seu discurso. Estas mesmas alunas, devido às precárias condições do estágio, decidiram sair da instituição, deixando a Coordenação de Estágio ciente de todos os problemas que lá ocorriam. Além disso, a Profª Angela, responsável pela Coordenação na FAPSS, tomou ciência dos fatos e incentivou a saída de tais estagiárias da Instituição.
 Neste sentido, podemos dizer que muito tem se cobrado do aluno/estagiário e pouco da Coordenação de Estágio, como mediadora entre campo de atuação e aluno. A Coordenação apenas está preocupada com o fato de que o aluno cumpra as horas de estágio estabelecidas, mas não tem se importado com a qualidade dos campos de atuação e supervisores acadêmicos. Haja vista, que o convênio com a referida instituição não foi cancelado, permanecendo a entidade como campo de estágio autorizado pela Coordenação.
Desta forma, exigimos uma mudança de postura por parte da Coordenação Pedagógica, que deve fiscalizar os campos de estágio mais de perto, excluir de seus quadros os estágios precarizados e que não enriqueçam a formação profissional do aluno, além de não incluir como campo de estágio, os estágios que forcem o aluno a exercer atividades que estão além de suas atribuições enquanto estagiário. Repudiamos a inserção de empresas nos quadros da Coordenação de Estágio como campo de atuação que não ofereçam bolsas de estudo aos estudantes e que, ao invés de remunerar decentemente um estudante que precisa pagar sua faculdade, continua lucrando bilhões de dólares em tempos de crise, de demissão em massa e de implantação de trabalho terceirizado e desprotegido em suas fábricas, como no caso da GM do Brasil que abriu uma vaga de estágio para alunos da FAPSS, sem remuneração, para estagiar alguns dias na semana.
Não estamos querendo dizer com isto que somos contra o estágio supervisionado. Porém, somos contra a forma como esta disciplina é implantada pela Coordenação de Estágio, de forma impositiva e sem flexibilidade no que se refere ao não cumprimento das horas de estágio estipuladas. E, portanto, defendemos também uma carga horária menor de estágio supervisionado no terceiro ano de curso, para que o aluno não fique tão defasado no que se refere aos seguros e auxílios da Previdência Social, quando deles necessitar.
Cobramos também do departamento de estágio que dobre a fiscalização sobre os estágios supervisionados que ocorrem no final de semana e em alguns dias da semana. Tais estágios tendem a sobrecarregar o aluno de trabalho, sem oferecer  elementos importantes para a formação acadêmica e profissional do aluno, que requer reflexão e pausa para discussão com equipe social e interdisciplinar.

Diante disto, exigimos:
  • Pela retirada da instituição Estrela Azul dos quadros de campo de estágio da FAPSS;
  • Exclusão do quadro de todas as instituições que exploram e não se comprometem com a formação do aluno;
  • Por uma averiguação imediata da Coordenação de Estágio em todos os campos de estágio;
  • Pela anistia às alunas que estagiavam no Estrela Azul.  Elas não precisam pagar por um erro cometido pela Coordenação de Estágio e por sua supervisora.

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