terça-feira, 12 de julho de 2011

Mídia esportiva e machismo: tudo haver


No último domingo, assisti com meu noivo e com o meu sogro o jogo do Brasil contra os EUA, pela Copa do Mundo Feminina de Futebol. Era jogo eliminatório das quartas de final do torneio.
Eu, como amante de futebol, prestei atenção no jogo todo. Não digo que prestei muita atenção, porque naquelas horas o almoço pesado de domingo já estava fazendo efeito e me provocando sono. Mas, até onde eu vi, o jogo foi ruim pra caramba. Na verdade, nem a Marta conseguiu criar muita coisa, mas das oportunidades que teve ela fez gols. Graças a ela, aliás, conseguimos um empate que nos levou à prorragação. Graças a ela também estivemos em vantagem numérica no placar até o finalzinho do segundo tempo da prorrogação, quando no último minuto, a americana empatou o jogo, levando a decisão para os pênaltis.
Estava indo tudo muito bem na transmissão da partida (BAND). Eu pelo menos não notei argumentos  machistas, nem por parte do narrador, Luciano do Vale e, nem tampouco do comentarista, Neto.
Como já é sabido, o Brasil perdeu a vaga nas semis com uma penalidade defendida pela goleira dos EUA, a Hope Solo.
Depois da partida ouvi muitas pessoas colocando esta moça como uma musa. Ela é musa óbviamente porque foge dos padrões físicos apresentados pela maioria das jogadoras de futebol, que ralam todos os dias para treinar e ainda sustentar a família em atividades remuneradas extra-campo. Ela é uma mulher alta, jovem, branca, dos olhos claros e desta forma, está obviamente dentro do padrão de beleza estabelecido pelo patriarcado e pelo capitalismo, que faz com que muitas empresas de cosméticos e cirugiões lucrem milhões todos os anos com a verdadeira esquizofrenia que lança sobre as mulheres, divulgando padrões de beleza inalcansáveis para qualquer mulher comum.
É impressionante o que o mundo machista faz: ela é goleira, uma excelente jogadora de futebol... e dão maior enfâse aos atributos físicos da atleta, como se o lado profissional não contasse muito para quem é mulher.
Não é por nada não, mas essa goleira tá com mais ibope do que a própria Marta, melhor jogadora do mundo na atualidade. Os homens machistas que trabalham no jornalismo esportivo ou nas mídias de fofoca devem párar pra pensar e reconhecer que mulher também gosta de futebol, entende de futebol e sabe muito bem quando uma sacanagem dessas acontece. A jogadora que é valorizada é a bunitinha, ou então, aquela que, como a Marta, tem uma qualidade futebolística superior a média. Fora a parte isso, a mídia esportiva nem lembra de futebol feminino.
Quando nós mulheres que gostamos de futebol falamos sobre os atributos físicos de algum jogador, logo somos consideradas burras, que só assistem futebol masculino pra ver perna e bunda de homem e, portanto, a mesma consideração deve servir para os homens.
Isto de ficar falando que é bonita a jogadora tal, a fulana de tal... isso pra mim é coisa de homem que não entende bulhufas de futebol. COMEÇA A PRESTAR ATENÇÃO NO JOGO, RAPAZ!
E para nós, mulheres, é sabido que existem lugares e espaços reservados aos homens e isto deve ser uma coisa abolida de uma vez por todas. As mulheres devem estar em todos os espaços e muito mais naqueles espaços que historica e culturalmente foram reservados aos homens: no rock, nos bares, no futebol, na mídia esportiva, nos cursos de exatas das faculdades (lecionando).
Já tivemos alguns avanços, mas se comparados ao poder patriarcal, são irrisórios. Haja vista, a falta de comprometimento do poder público para com o futebol feminino, que permanece nos becos do esporte.

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